No sonho um sonho SONHEI... Buracos na rocha Via Gruta Sombria O mar ouvia Tremia Sentia Fome e frio Gritei, implorei, além do marulhar, silêncio Olhando pelo buraco a tênue claridade, adormeci, no sonho e sonhei! Frase Na penumbra há gestos de Amor. Prosa Poética
No sonho um sonho SONHEI... Sonhos inspiram Poesia. Sonhos também nos fazem refletir através do simbolismo. Talvez seja uma maneira generosa do inconsciente nos responder as inquietações. A Vida é um presente e adora também dar presentes-surpresas. Nossa! Adoro recebe-los. Mas alguns não trazem manual e a incompreensão parece rir de minha falta de habilidade emocional. E com isso o presente me deixa inquieta. É um enigma. Todo enigma existe para ser decifrado, é assim que a minha mente pensa. Ainda bem que ela, tem consciência que não é uma “sabe tudo”, e é por isso que o inconsciente, se apressa em socorrer. Não quer que a minha sanidade se perca, é compaixão mesmo, porque há muito não sei o caminho de casa. Ah, e onde entra o sonho no sonho? Coisas do inconsciente. Vamos ao sonho! Abri os olhos, num sobressalto, sentia nas narinas, a maresia, havia um frescor marinho no ar, sentei-me, o chão rochoso era frio, e eu tremia, as mãos estavam geladas, esfreguei-as, abracei-me, percebi-me nua. Chorei de estranhamento. Não sentia medo. Sentia frio e fome e tremia, sem entender o que se passava. Era um sonho a razão me alertava. Pesadelo eu pensava. A penumbra imperava, mas por dois buracos eu via uma tênue claridade. Levantei e fui até eles, só via a réstia de luz do outro lado, enfiei o braço pelo buraco, gritei por ajuda. Não ouvi resposta, apenas o marulhar e o silêncio. Clamei por comida, revelei minha fome. Silêncio. Chorei o meu frio, mergulhada na penumbra do vazio e mais uma vez estendi a mão na direção da luz, pelo buraco, como se esmolasse à caridade de alguém. Ali, fome, frio, vazio, chorando, no sonho dormi. Dormindo sonhei no sonho que eu acordava e tirando a mão do buraco, me virei e olhei no entorno da gruta, explorei a penumbra e foi aí, que as lágrimas imitaram o mar e lavaram-me a face, e eu mais tremia, de frio, de fome, de vazio e de minha incompreensão, e parecia que toda a minha vida eu chorava. E vi alimentos e peles oferecidos por mãos silenciosas. Lágrimas geladas me despertaram no sonho do sonho e eu estava ali, agarrada no buraco na parede, chorando, o frio e a fome da alma. Tirei a mão e virei-me, tal qual fizera, no sonho do sonho. Tateei a penumbra e encontrei alimentos, peles e mãos quentes e silenciosas. Afagaram-me. Chorei de Gratidão, ali, segurando uma mão silenciosa, Enrolada numa pele, mordendo uma maçã, olhando a réstia de luz, do outro lado do buraco. chorando de gratidão, Acordei. Vestida de gratidão e Amor. O sonho no sonho me mostrou que na aparente escuridão há gestos de Amor. Preciso tatear na penumbra de mim. Juli Lima
Enviado por Juli Lima em 10/08/2020
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