...Menina ESTRANHA.... Devorava livros.... PENSENTIA... Ninguém faz o que ela faz! E o que faria alguém que morasse num paraíso, cercada de plantas e animais? Que acordava bem cedinho e esperava pelo Sol. Vestia o seu mais radiante sorriso para recebe-lo, com um sussurrado, quase grito - Bom diaaaaaaaaaaaaaaaaa, Sol! Algumas vezes os olhos marejavam, mas nem ela sabia por quê... Tenra idade, não sabia o que era Saudade. Ou será que sabia? E o dia, no “Paraíso”, começava... Assim, antes do Sol... Algumas vezes nem o café da manhã, que ela no pilão moía, tomava... Molhar a horta, distribuir água e rações para os animais... Preparar o café pra seus pais... E Lá ia ela...Correr e saltitar pelas trilhas do roçado, pés no chão e cabeça no mundo da lua... Menina estranha, diziam... Fala sozinha e vive sorrindo... Deve ser “pancada da cabeça”, Ouvia de outros..., mas não se importava ... Ou se importava e não demonstrava? Que importa? Tinha muito o que fazer... Cuidava da casa, dos irmãos, brincava, sonhava acordado e ainda estudava... Quando voltava do roçado, pelo caminho, subia nas árvores, ficava de cabeça pra baixo e pulava no chão, falava com as plantas e os animais. Pegava frutas da época, no pomar e sempre agradecia... Tinha pressa... Havia tarefas... Frutas na blusa, sorriso escancarado... E a cabeça em outro lugar... Tinha pressa... Tinha que acordar e alimentar os irmãos, enviar pra escola e preparar a próxima refeição..., porém antes tinha que visitar o galinheiro... Brincar de pique com os gansos... E lá ia ela gargalhando pelo terreiro... Olha a hora, sabe ler ponteiros... Preparar a marmita dos pais, não esquecer de encher a moringa e levar para eles na plantação, precisa correr... De volta da roça, se banha, veste o uniforme da escola, limpinho, passadinho com ferro à carvão. Almoça, quase engole a comida, tem pressa, a escola não é perto, e não se entra atrasado na aula. Algumas vezes a professora dá carona, e ela carrega a bolsa para ajudar. Senta na primeira fila, atenta, ama estudar. Tem fome de aprender... Se dependesse dela, não ia para o recreio. No recreio, se isola, quase invisível fica num canto do pátio, graveto na mão, rabisca palavras, faz contas, desenha... Desenha? Rabiscos, são representações, muitos só ela entende... Coleguinhas implicam, ou querem atenção? Algumas vezes ela briga, parece fera, e fica de castigo na secretaria, não chora, nem sorri... Leva uma advertência para casa... Fim da tarde, de volta pra casa, pelo caminho, liberta as lágrimas, solta gritos que só ela ouve. Tem pressa, tem um encontro com o Sol, corre. O vento seca as suas lágrimas... Chega ao paraíso, suada, arfante e reencontra o sorriso. Vai direto para o banho... Secando os cabelos, espera pelo pôr do Sol e com aquele sorrisão, diz - Boa noiteeeeeeee, Sol! Sonha comigo, eu vou sonhar com você... - Te espero amanhã, tá! Suspira, aperta o peito com as mãos... Na terra batida, a palavra SOL, fica bordada... O Sol se foi... Então, pega o rol de tarefas determinadas pelos pais e confere com os irmãos. Eles já tomaram banho e jantaram... Os pais chegam da roça... Ela entrega a mãe a advertência recebida na escola, ouve a bronca. Sabe que a mãe tem razão. Não gosta de entristecer a mãe. Não chora... Vai para o quarto... Na cama de cima de um dos triliches, sob a luz do lampião... Devorava livros e mais livros... E, pensava, sorria, chorava, sentia, sonhava, PENSENTIA... PENSENTIR - Pensar/Sentir *** *** *** Imagem - Google Juli Lima
Enviado por Juli Lima em 12/07/2020
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