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 NEU*-RJ e a "sensibilidade" social


Mancha Anestésica Social
 
  
Luíz Carlos D. Formiga
 

Se estivéssemos de posse da máquina do tempo e caminhássemos para o futuro, começaríamos escrevendo este artigo dizendo: a hanseníase, que no passado os ignorantes chamavam de lepra, está em expansão. Mas estas idéias são justamente para que não venhamos a falar, neste mesmo futuro, do aumento de sua incidência, entre nós.
            Esta expansão demonstra que nossos programas de controle ou não foram implementados ou não atingiram os objetivos perseguidos. É de domínio público que as informações dos sintomas que evidenciam a existência da doença são retardadas, contribuindo de maneira desastrosa para o preconceito existente nas diversas comunidades.
            À semelhança da síndrome de imunodeficiência adquirida, na hanseníase, mais do que em qualquer outra doença, a ignorância e o medo podem produzir danos irreparáveis e obstaculizar de modo irreversível o sucesso de um programa de controle.
            Qualquer contribuição no sentido de uma campanha nacional de conscientização deve ser bem recebida. A capacitação de novas instituições e iniciativas não governamentais é uma delas. Principalmente aquelas que possuem uma boa linha de comunicação com a comunidade. Este não é apenas um problema quase sempre negligenciado, que quase não encontra o respaldo dos veículos de comunicação de massas. É também uma situação pouco conhecida mesmo entre aqueles que transitam no setor de saúde. Como na síndrome de imunodeficiência adquirida devemos procurar, mas não podemos esperar, uma vacina que produza trocas persistentes na reatividade imunológica dos indivíduos.
É necessário superar os diversos obstáculos, administrativos e técnicos, que interferem na cura bacteriológica de todo indivíduo com hanseníase-infecção, porque isto é básico num programa efetivo de controle. É necessário que esses indivíduos procurem um tratamento adequado.
Recentemente, estudando uma outra bacteriose (difteria), pudemos observar que a taxa de contágio entre contatos familiares é muitas vezes maior do que a encontrada na população geral. Uma evidência clara da imperiosa necessidade de uma vigilância maior neste grupo mais exposto. Em hanseníase o raciocínio é idêntico e o controle dos contatos familiares deve dirigir-se especialmente às crianças mais susceptíveis, que convivem com pacientes Virchowianos. Nestes contatos, mitsuda negativos, mesmo sem lesão clínica, está indicado o acompanhamento dermatológico e neurológico.
Imprescindível o diagnóstico precoce e o tratamento específico para a recuperação da unidade econômico-social.
A maioria dos casos notificados ainda são formas avançadas da hanseníase-doença, o que permite deduzir que o diagnóstico está sendo feito tardiamente. Mas o que fazer para que isso não ocorra? É necessário combater a indigência cultural que leva ao medo. A ignorância faz mais vítimas do que os microrganismos. Ela é responsável pela criação do fenômeno psicossocial-somático "lepra". É necessário não esquecer a omissão por comodismo. "O Mundo está cansado de ouvir; o Mundo agora quer ver". É fundamental não esquecer a exagerada confiança nas drogas antimicrobianas; a subestima da situação epidemiológica; o desconhecimento de que a hanseníase ainda não conseguiu eliminar o estigma deixado pela lepra.
Enquanto membros de uma comunidade que atua junto à população carente, nestas oportunidades, o que temos feito? O que temos feito, efetivamente, para libertar a hanseníase (doença infecciosa relativamente benigna, "pouco contagiosa", não letal) das amarras da lepra (doença social grave em torno de um núcleo físico relativamente pouco importante)?
Alguns advogam, aqui e no exterior, a desnecessidade da troca do nome da doença, como se ambos fossem a mesma coisa, porque esta nova terminologia poderá também ser fruto de representações. No entanto se esquecem que as representações sociais da hanseníase poderão até mesmo ser modificadas no curso de sua construção. É aqui que o Ministério da Educação poderia dar uma grande contribuição. Enquanto ela não vem vamos ficar de braços cruzados? Vamos ficar, como na Aids, esperando que alguma "autoridade" faça o nosso trabalho de casa?
Ainda hoje um paciente não pode chegar, num serviço de saúde, e dizer tranquilamente: "eu tenho uma mancha anestésica", porque carregamos uma mancha anestésica social (ignorância) que contribui efetivamente para a desagregação da personalidade do paciente. Examine-se. Veja o tamanho da sua mancha. Sua sensibilidade. Informe-se. Hanseníase tem cura.
 
( * ) Publicado como Editorial na Revista Brasileira de Patologia Clínica, 24(2):31, 1988; "O Globo" - País/Ciência e Vida, 19 fev. p.11. ; " O Dia " - Domingo, 31 julho, p.14.;   Revista Psicologia - Comportamento,14: 30. ; Boletim Informativo do Hospital Universitario Clementino Fraga Filho (UFRJ), 7(63): e Citado no Pronunciamento do Deputado Elias Murad - PTB-MG. Assembléia Nacional Constituinte. Câmara dos Deputados (17 de maio).

LUIZ CARLOS D. FORMIGA é professor universitário da UFRJ e UERJ, aposentado.

*Núcleo Espírita Universitário

http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo470.html

Imagem - http://jardimsecretto.files.wordpress.com/2009/09/outono.jpg
Juli Lima
Enviado por Juli Lima em 05/12/2009
Alterado em 05/12/2009


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